terça-feira, 7 de julho de 2009

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No passado Sábado, ocorreu o lançamento do livro "Vítimas de Salazar: Carlos Ferreira Soares, Anatomia de um Crime", da autoria de Armando Sousa Silva, docente na Esc. Sec. Dr. Manuel Gomes de Almeida. Num estilo vivo e cativante, o autor narra a vida deste eminente médico de aldeia (este exerceu o seu múnus na actual vila de Nogueira da Regedoura), mais particularmente o dia em que foi bárbara e cobardemente assassinado por elementos da polícia política (PVDE). A leitura desta obra engrandece-nos, uma vez que Carlos Ferreira Soares é, pelo seu humanismo e pela total e incondicional dedicação ao seu próximo, um exemplo da concretização dos ideais da liberdade e da fraternidade. A sua imagem permaneceu guardada na memória do povo que o continua a identificar, poeticamente, com a japoneira onde se refugiava, altas horas da noite (esta situa-se no cemitério de Nogueira e foi sucessivamente cortada pelos seguidores do regime.Portanto, a cameleira que, actuamente, se encontra junto à campa rasa do Dr. Ferreira Soares tem cerca trinta e cinco anos). Recomendo-vos este livro, nele desfilam páginas da vida de um homem BOM.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Criação poética

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

Miguel Torga

domingo, 28 de junho de 2009

Ressurgiremos

Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta

Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta

Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta

Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta


Sophia de Mello Breyner Andresen



O Poeta é o Portador

O Poeta é um portador. Carrega tudo,
Mas ele mesmo é a carga e o encarregado,
Tal na aldeia dos sãos, é o surdo-mudo,
Cheio deles e de si, triste pasmado

A força do Sentido o faz escudo
Do fogo que não pode ser roubado
Enquanto ofereça o coração agudo
À guerra que nasceu para soldado.

Sua coragem na palavra o espera,
Aguardado silêncio pensativo,
Como a hora que a torre negra dera.

Além da meia-noite e antes da hora
Prima, que a madrugada álgida chora,
Lágrima a tempo, átono som cativo.

in O Verbo e a Morte

quinta-feira, 25 de junho de 2009

criação de blog

Hoje criei o meu primeiro blog ...