Ressurgiremos
Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta
Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta
Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta
Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta
Sophia de Mello Breyner Andresen
O Poeta é o Portador
O Poeta é um portador. Carrega tudo,
Mas ele mesmo é a carga e o encarregado,
Tal na aldeia dos sãos, é o surdo-mudo,
Cheio deles e de si, triste pasmado
A força do Sentido o faz escudo
Do fogo que não pode ser roubado
Enquanto ofereça o coração agudo
À guerra que nasceu para soldado.
Sua coragem na palavra o espera,
Aguardado silêncio pensativo,
Como a hora que a torre negra dera.
Além da meia-noite e antes da hora
Prima, que a madrugada álgida chora,
Lágrima a tempo, átono som cativo.
Quem acende uma luz é o primeiro a beneficiar da claridade - Chesterton
ResponderEliminarA claridade e a luz evocam-me o universo dos poetas, nomeadamente o de Cesário Verde. Com efeito,lembro-me sempre dos magistrais versos do poema "Num Bairro Moderno": "E o sol estende, pelas frontarias,/Seus raios de laranja destilada"
ResponderEliminarPaula
Adoro Sophia e a sua lírica carregada de contornos e ideais helénicos! E este poema vem mesmo a calhar nesta época de crise por que estamos a atravessar... Sim, ainda encontraremos a Luz!
ResponderEliminarluís filipe*